segunda-feira, junho 15, 2009

Idosos conectados 'para seguir em frente'

Stephanie Clifford, no The New York Times

Como muitas pessoas mais velhas, Paula Rice, moradora do estado de Kentucky, ficou cada vez mais isolada nos últimos anos. Seus quatro filhos crescidos moram em outros lugares, seus dois casamentos acabaram em divórcio e seus amigos estão espalhados. Na maioria dos dias, ela não vê ninguém.

No entanto, Rice, 73 anos, está longe de ser solitária. Confinada em casa depois de sofrer um ataque cardíaco, há dois anos, ela começou a visitar redes sociais virtuais, como o Eons.com, uma comunidade online para baby boomers que estão envelhecendo, e o PoliceLink.com (ela é ex-despachante policial). Agora, Rice passa até 14 horas por dia em conversas online.

"Eu estava morrendo de tédio", ela disse. "O Eons me deu uma razão para continuar vivendo".

Não é novidade que cada vez mais pessoas da geração de Rice estão entrando em redes virtuais, como o Eons, o Facebook e o MySpace. De acordo com a comScore, empresa de medição de mídia, o número de internautas idosos que visitaram redes sociais cresceu quase duas vezes mais rápido que o índice de uso da Internet neste grupo, no ano passado.

Pesquisadores que focam no envelhecimento estão estudando o fenômeno, a fim de verificar se as redes sociais podem oferecer alguns dos benefícios de um grupo de amigos, ao mesmo tempo em que é mais fácil de arranjar e manter.

"Um dos maiores desafios, ou perdas, que enfrentamos como adultos mais velhos, honestamente, não envolve nossa saúde, mas como nossa rede social está nos deteriorando. Isso acontece pois nossos amigos adoecem, nossos cônjuges morrem, os amigos morrem, ou nos mudamos", disse Joseph F. Coughlin, diretor do AgeLab, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

"O novo futuro da terceira idade envolve permanecer na sociedade, no ambiente de trabalho e estar bem conectado", acrescentou. "A tecnologia vai ser uma parte muito importante nisso, pois a nova realidade é, cada vez mais, uma realidade virtual. Ela oferece uma forma de fazer novas conexões, novos amigos e novos propósitos".

Cerca de um terço das pessoas com 75 anos de idade ou mais moram sozinhas, segundo um estudo da AARP, publicado em 2009. Em resposta ao crescente número de americanos idosos, o Instituto Nacional para o Envelhecimento está concedendo pelo menos US$ 10 milhões em financiamentos para pesquisadores que examinem a neurociência social e seus efeitos sobre o envelhecimento.

Redes online podem representar para os mais velhos "um lugar onde eles se sintam fortes, pois podem realizar essas conexões e conversar com as pessoas, sem ter que usar um amigo ou membro da família para mais uma coisa", disse Antonina Bambina, socióloga da University of Southern Indiana e autora do livro "Online Social Support" (Cambria, 2007).

Para os familiares dos idosos, as redes sociais podem trazer um pouco de alívio. Chris McWade, morador de Franklin, Massachusetts, o mais novo de uma grande família, recentemente ajudou na mudança de seus pais, avós e tio para casas de repouso. Ele contou ter passado dois ou três anos "voando por todo o país, segurando a mão de muitas pessoas" e vendo o isolamento e a depressão que chegam com a idade.

Isso lhe despertou a ideia para a MyWay Village, uma rede social baseada em Quincy, Massachusetts. McWade ajudou a fundá-la, em 2006, e hoje a vende para casas de repouso. O projeto acaba de finalizar os programas-piloto em várias casas de Illinois e Massachusetts. McWade contar ter firmado acordos para a expansão para várias outras casas.

Há dois anos e meio, Howe Allen, corretor imobiliário em Boston, ajudou na mudança de seus pais para o River Bay Club, uma casa de repouso, também em Quincy, que usa o MyWay.

Sua mãe morreu logo depois. No entanto, seu pai, Carl, pôde começar a fazer amigos e compartilhar histórias no MyWay. Ele nunca havia usado um computador, mas aprendeu rápido; o software inclui aulas de informática. Depois de sua morte, em dezembro, o serviço de memórias da casa de repouso incluiu fotografias que ele tinha postado no MyWay, trechos de memórias publicadas por ele, e depoimentos de amigos feitos através do site.

"Foi um dia emocionante, jamais esquecerei", disse Howe Allen. "É mais que um simples computador. Isso o afetou de forma que estão além da era eletrônica. Isso permitiu que ele crescesse numa idade em que, supõe-se, as pessoas param de crescer".

Numa segunda-feira recente, Neil Sullivan, gerente regional do MyWay, estava diante de um grupo de cerca de vinte residentes do River Bay Club, na biblioteca do local.

Ele chegou preparado com slides e discursos, mas o grupo só queria falar da vida deles. Quando Sullivan mostrou a fotografia de um Chevrolet 1950, um morador disse: "Eu tinha um Chevy 57", e outro respondeu: "O meu era um 49". Um homem que usava um suéter verde-amarelado, até então quieto, acrescentou: "O melhor carro que já tive foi um Dodge Business Coupe".

Sarah Hoit, co-fundadora e diretora executiva do MyWay, disse que, para os mais velhos, aprender a se conectar não era um objetivo por si só. "Eles querem um veículo para encontrar novas pessoas e compartilhar a vida", disse. "Eles querem ser estimulados".

Fora das sessões semanais, os moradores de River Bay usam o site para postar histórias como "Minha Vida Como Enfermeira" ou "Trabalhei no Howard Johnson, em Quincy". Sunny Walker, 89 anos, que se recusava a usar máquina de escrever elétrica quando era secretária de uma escola (de tanto que odiava tecnologia), agora brinca e envia mensagens para os amigos através do site.

"Estou lhe dizendo, é a melhor coisa para os mais velhos", disse ela. "Isso desafia nossas mentes, é isso. Desafiou a minha".

Algumas pesquisas sugerem que a solidão pode piorar a demência. Dr. Nicholas A. Christakis, médico interno e cientista social de Harvard, considera pesquisar se as conexões sociais online podem ajudar a retardar a demência, da mesma forma que as tradicionais.

"Redes sociais online realizam uma propensão antiga que todos nós temos de nos conectar com outros", disse ele.

A propensão pode ser antiga, mas a forma de fazê-lo, não. Mollie Bourne, dona de um campo de golfe e moradora de Puerto Vallarta, México, durante metade do ano, entra no Facebook algumas vezes por semana. Ela gosta de ver os posts e fotos de seus netos, mesmo aquelas tiradas em bares e festas, aquelas que as pessoas não esperam que a avó veja.

"Por Deus, todos nós agíamos assim na faculdade", disse ela. "É isso que acontece quando você tem 76 anos. Já estive por aí. Já vi de tudo. É preciso muita coisa para me chocar".

Publicado no UOL Internacional.

Porque o Google não é o Twitter

Por Randall Stross*, no The New York Times

Os blogs de tecnologia têm se perguntado se o Google não passa de um gigante desajeitado na era do Twitter, incapaz de lidar com o fluxo de tweets publicados há apenas poucos segundos.

O Google funciona mais rápido do que muitos críticos imaginam. Mas, mesmo que não funcionasse, a questão mais importante é se de fato queremos que o mecanismo de busca do Google engula todo o volume de informações que sai do Twitter assim que elas surgem, sem filtrar, analisar e hierarquizar por autoria?

"A busca em tempo real resulta em spam em tempo real", escreve Danny Sullivan, editor-chefe do site Search Engine Land.

Qualquer um que se inscreva para acompanhar um usuário específico do Twitter recebe as mensagens instantaneamente, assim que são enviadas (quando o sistema funciona). Filtrar não está em questão nesses casos: os 1,77 milhão de seguidores de Britney Spears provavelmente desejam receber cada linha de informação transmitida por sua conta.

Mas se alguém quiser procurar tweets sobre um assunto específico no Twitter - por exemplo, sobre Britney Spears, mas incluindo os tweets de qualquer pessoa que a mencione - os dados do Twitter enchem todo um oceano no qual é difícil encontrar um peixe específico.

A página de busca do Twitter diz: "Veja o que está acontecendo - nesse exato momento". Mas a base de dados do Twitter não foi originalmente planejada para ser pesquisada como foi o Google. De fato, no ano passado, o Twitter comprou outra "start-up" [empresa de tecnologia em desenvolvimento], a Summize, para prover essa função de busca.

Mesmo assim, o desempenho de busca do Twitter é muito lento em comparação ao fluxo de tweets. Sullivan observa que o serviço de busca do Twitter não oferece resultados em tempo real de forma consistente: normalmente passam-se 20 minutos ou mais para que um determinado tweet apareça nos resultados da busca. No Google, são necessários apenas centésimos de segundo para verificar a base de dados quando uma determinada frase de busca é submetida.

Mas, para se preparar para isso, a companhia re-examina a internet com uma frequência não divulgada para atualizar sua base de dados. Alguns sites, como os de novas organizações, são checados com bastante frequência. Outros esperam sua vez numa agenda rotativa de visitas do crawler [motor de busca] do Google, que armazena cópias das páginas de internet.

Peter Norvig, diretor de pesquisas do Google, diz que Larry Page, um dos cofundadores do Google, pressiona sistematicamente os engenheiros da companhia para indexar as páginas mais ativas da internet com mais rapidez. Quando a frequência aumentou para uma indexação de hora em hora, Page insistiu para que o intervalo fosse descrito como "3.600 segundos", enfatizando que seria reduzido ainda mais, o que de fato aconteceu.

O Google checa novas entradas constantemente, mas não indexa os tweets com tanta facilidade. Numa entrevista coletiva em Londres no mês passado, pediram para que Page dissesse se o Google tinha algum plano para fazer buscas no Twitter em tempo real. Page respondeu que faz tempo que ele pressiona suas equipes de busca para indexar a cada segundo. "Eles meio que riem de mim e dizem: 'Tudo bem se for alguns minutos'", disse ele. "E respondo: 'Não, não, tem que ser a cada segundo.'"

Recentemente, surgiram várias start-ups de busca que diferenciam suas ofertas dos antigos mecanismos de busca, enfatizando o fato de serem especializadas na internet em tempo real. Por exemplo, a OneRiot, de Boulder, Colorado, cobre o Twitter entre outros sites de mídia social, mas tem meios intrigantes de reduzir o spam do Twitter: ele não indexa os textos dos tweets - pega apenas os links, assumindo que as pessoas estão mais interessadas nos vídeos, notícias e posts de blogs que são compartilhados.

A OneRiot vai atrás do link, verifica se não há spam, comparando o conteúdo da página com o conteúdo do tweet, e depois usa seus próprios algoritmos para determinar se o link deve ir para sua lista sempre mutante de itens "quentes".

Estritamente falando, não se trata de processamento em tempo real. Mas checar os links antes de acrescentá-los ao índice parece ser um tempo bem gasto.

Tobias Peggs, gerente-geral da OneRiot, diz que sua companhia pode processar, checar e indexar um link em 37 segundos. Quando perguntado por que ele se preocupa em medir os segundos, uma vez que leva mais de 20 minutos ou mais só para receber os tweets buscáveis do Twitter, ele explicou que o atraso do mecanismo de busca do Twitter não afeta o serviço de busca de sua companhia, que recebe o fluxo de dados ao mesmo tempo que o mecanismo de busca do Twitter.
Como a empresa de investimentos de risco Spark Capital investiu tanto na OneRiot quanto no Twitter, a OneRiot tem "acesso aos dados do Twitter que outras empresas não têm", diz Peggs.

O Google percorre o site do Twitter - com uma frequência não revelada - para coletar os mesmos links incluídos nos tweets que a OneRiot indexa, e isso pode aparecer nos resultados de busca do Google. Se o Google negociasse o mesmo acesso direto ao fluxo de tweets que a OneRiot tem, ele provavelmente poderia ser tão rápido quanto o OneRiot e ter as mesmas listas, como "os [tweets] mais compartilhados do dia" ou "melhores vídeos do dia".

A busca quase em tempo real do Google fornece resultados de melhor qualidade do que as próprias buscas em tempo real. Quanto à necessidade de indexar "cada segundo" da internet, Page reconhece que é útil gastar um pouco mais de tempo para analisar a informação coletada.

"Se você de fato quer informação atualizada a cada segundo, ela não será tão boa quanto se você estiver disposto a esperar alguns minutos", diz ele. "Não tenho certeza se todo mundo precisa ficar vendo essa coisa a cada segundo."

* Randall Stross mora no Vale do Silício, é escritor e professor de administração na Universidade Estadual de San Jose.

Publicado no UOL Internacional.