segunda-feira, julho 18, 2011

Oito copos de água

Ivan Lessa, na BBC Brasil

Nós todos, a humanidade, para sobrevivermos, precisamos de oito copos de água (cada um de 8 onças líquidas) por dia. A isso chamam de "a lei dos 8 x 8".

Não me canso de ver gente, principalmente agora, no verão, carregando sua garrafinha, ou garrafona, de água na mão. Nas ruas, teatros, cinemas, na condução, onde estiverem.

Há inclusive, pegando uma bela carona na superstição (já chego lá), cinturões especiais de fino material e acabamento, muitos de grife, que vêm com o espaço para encaixar aquele que já foi o "precioso líquido" e hoje substitui, com desvantagem, creio, o cigarrinho ora proibido.

Os médicos recomendam os tais "8 x 8". Aqueles mesmos senhores que não sabem o que é nem como atua no organismo humano a aspirina.

Felizmente, como em toda profissão, há, aqui e ali, lampejos de sensatez. Que é o caso da doutora Margaret McCartney, de Glasgow, na Escócia, que, em artigo publicado há pouco na mais respeitada publicação, talvez mundial, do gênero, o British Medical Journal revelou o que nós, pessoas sóbrias e equilibradas, sempre desconfiamos – mais: sempre soubemos -: qual seja, isso é exagero.

A dra. McCartney vai mais longe, pois como boa escocesa não tem meias-palavras, só palavras completas. Diz ela, a uma certa altura que esses 8 copos de água por dia constituem "um absurdo que chega ao ridículo".

Enfileirando com o devido rigor sua argumentação, ela afirma o que seus colegas de profissão sempre souberam: não há nenhuma prova científica de que o corpo humano precisa de tanta água por dia. E prossegue dizendo que o corpo humano regula seu próprio consumo de água quando necessita substituir o consumo do fluido em questão.

A ilustre doutora McCartney é definitiva em seu esboço de tratado. O corpo humano quando precisa mesmo de água tem sede. Esse o mecanismo báscio a ser posto em funcionamento.

Tudo depende da atividade em que o indivíduo está envolvido e quanta água contém o que ele ingere na comida. Isso para não falar de fatores como o calor e as condições médicas da pessoa.

Para os que, além de viciados (não há outra palavra) em água, são ainda chegados a uma reciclagem, saibam que 1 tonelada e 500 milhões de quilos de plástico são utilizados pela indústria potável em recipientes plásticos, por sinal de difícil e dispendiosa reciclagem.

Parabéns pois à Volvic e à Evian por contribuir para a ignorância da plebe dita "esclarecida", para não dizer maníaca também, pelo produto inodoro e insípido que faz, para uns poucos, lucros de milhões e aufere para um dinheirinho razoável para seus acionistas.

Heinz Valtin, fisiologista americano, não encontrou em suas pesquisas, motivadas pelo ensaio da dra. McCartney, nenhuma referência aos tais 8 copos de água diários "imprescindíveis" para nossa saúde.

Apenas que, em 1945, a Junta de Nutrição de seu país opinou (eram mais tolerantes então) que o que comemos já possui os fluidos necessários para o nosso funcionamento adequado.

No que voltamos ao lendário popular. Consta das crendices dos menos dotados de luz que 8 copos de água diários são sensacionais para tratar de infecções do trato urinário e melhorar a tonalidade da pele, além de reduzir as dores de cabeça e auxiliar nos casos de constipação, que, aliás, acrescenta Valtin, os rins cuidam do problema diretinho, sem auxílo de qualquer copo de água de grife ou sem grife.

Portanto, vamos parar de fazer rolar esse aguaceiro desatinado. E, com a devida moderação, optar pela boa e velha água de bica. Que é grátis.

domingo, julho 03, 2011

A raiva na internet ou desabafo da 'lôraburra'

Martha Mendonça, editora-assistente da revista Época

Um dos assuntos da semana foi o vídeo de Chico Buarque falando de como as pessoas são raivosas na Internet. O compositor, que está em processo de divulgação de seu novo disco, diz que, até começar a ler o que se falava sobre ele na rede, acreditava que era amado. As pessoas sempre foram aos seus shows, cantavam, aplaudiam, o cumprimentavam nas ruas. Gostam de mim, imaginou. Mas a curiosidade o levou a querer saber o que mais se dizia dele. “Descobri que na verdade sou odiado”. Na internet, era chamado de velho, ultrapassado, bêbado. Sempre com raiva. Muita raiva.

Na semana passada, o roteirista de humor e ator Bruno Mazzeo foi ao Programa do Jô e falou de assunto semelhante. Comentou sobre “a raiva na internet”. No Twitter, ele é xingado, rotulado, achincalhado. Explicou que não consegue deixar de responder a algumas coisas – embora saiba que o melhor mesmo é ignorar.

Não somos famosas como Chico e Bruno. Mas aqui no Mulher 7×7 também sofremos com a “raiva na internet”. É algo de que qualquer pessoa que tenha site, blog ou conta em rede social e é minimamente lido não escapa.

Não está fácil colocar a cara na internet.

Outro dia, escrevi um post no smartphone, com pressa. Depois publiquei – e tinha erros de digitação. Foi um alvoroço. Em vez de comentarem o assunto polêmico do post, os comentários focavam nos meus erros. Como a editora-assistente da revista Época poderia errar assim? Que profissional negligente! Não eram erros de português, mas claramente de digitação. Claro que estamos aqui para buscar a perfeição. O leitor merece todo nosso cuidado. Mas aconteceu. Acontece. Bastaria um comentário educado: olá, o texto está com erros de digitação, dê uma olhadinha, blogueira. É ótimo sentir a cooperação dos leitores.

Mas não. É preciso agredir. É preciso colocar a “raiva na internet” pra fora.

Até agora estamos falando de forma. Quando é caso de conteúdo, a coisa sobe a níveis altíssimos. Opiniões não podem ser apenas confrontadas. O dono delas precisa ser pisado, massacrado.

Como assim aquela pessoa que tem uma opinião diferente da sua tem um espaço importante na rede e você não?? Que assunto ridículo, caro blogueiro, não tem nenhuma tema melhor, não?? E dá-lhe ofensa! Tudo, claro, quase sempre protegido pelo anonimato. Ah, o anonimato! Nada como ser uma voz solta no ar, sem rosto, sem identificação!

Se puder tecer considerações negativas a respeito da aparência de quem escreve, melhor. Perdi a conta de quantas vezes fui chamada de “lôraburra” nos comentários – no último deles, me chamando de… “preconceituosa”. Digamos que eu tivesse sido mesmo. Mas e o preconceito contra as louras? No mesmo post, outro leitor também disse que eu estava sendo preconceituosa e acrescentou que eu tinha… “cara de síndrome de down”.

???

Li um tweet ontem, do humorista Murilo Gun: “Casal de lésbicas veio reclamar de uma piada minha. No show, elas riram de piadas sobre gordos e nordestinos. Mas quando as atinge não tem graça”.

Quase todo mundo é assim. O gordo ri do anão, o anão ri no negro, o negro ri do gay, o gay ri do nordestino, o nordestino ri da loura, a loura ri do feio, o feio ri do deficiente, o deficiente ri do gordo…

(E por falar em humorista, humor é algo que muitos não entendem. Tomam tudo ao pé da letra. Toda essa patrulha tem razão de ser, é um sinal de que estamos desenvolvendo o respeito aos direitos humanos. O exagero faz o mundo ficar muito chato – mas acredito que daqui a pouco as coisas vão se equilibrar.)

Tudo que eu disse aqui, talvez misturando alguns canais, em tom de desabafo, exclui totalmente o leitor/comentarista que discorda de alguma coisa que dissemos – com elegância. Esse é o melhor. O que concorda é igualmente bem-vindo, claro (afinal, concordar ainda é possível!). Mas o que contra-argumenta é o motor das discussões educadas e inteligentes.

Portanto, se for o caso, discordem de tudo que eu disse acima – mas sem raiva, por favor.