sábado, maio 24, 2008

Brasileiros vivem período de prosperidade

Do The New York Times

Os consumidores nos Estados Unidos estão apertando o cinto; os brasileiros estão gastando como se não existisse palavra em português para recessão.

Os americanos de classe média estão cercados por uma crescente onda de ansiedade; a classe média brasileira está crescendo.

Até mesmo alguns americanos que dispõe de bom crédito não conseguem encontrar uma hipoteca; os brasileiros estão contraindo empréstimos como nunca antes.

"No passado, quando os Estados Unidos espirravam, o Brasil pegava uma pneumonia, mas este não é mais o caso", disse Marcelo Carvalho, diretor executivo de pesquisa do Morgan Stanley no Brasil.

Graças a uma recém-encontrada estabilidade econômica e vitalidade, aqui e em grande parte da região, a América Latina parece cada vez menos acorrentada à sorte dos Estados Unidos. "Há um grande descolamento ocorrendo", disse Carvalho. "A economia brasileira está crescendo rapidamente enquanto a americana já está, ao nosso ver, em recessão."

O Brasil está se saindo bem graças a uma combinação de fatores. Os preços elevados das commodities, puxados pela demanda da China, provocaram a entrada de grande volume de dinheiro e criaram empregos.

O investimento estrangeiro dobrou no ano passado, para US$ 34,6 bilhões, grande parte no mercado de ações, que é um dos que mais crescem no mundo. A moeda está forte, atingindo uma alta de nove anos frente ao dólar na semana passada, e provavelmente valorizará ainda mais dada a decisão no mês passado da Standard & Poor's de elevar o Brasil ao grau de investimento.

A inflação, que encerrou 2007 a 4,5%, está sob controle e a economia está crescendo de forma consistente, apesar de não de forma espetacular, graças à administração competente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Seu abrangente programa assistencial distribui dinheiro para os pobres gastarem. Os salários estão subindo e o desemprego está caindo.

Resumindo, mais brasileiros têm mais dinheiro.

Lula chama isso de milagre. Mas na verdade, é algo que há muito era escasso na América Latina: confiança.

Com tanto o governo quanto os analistas estrangeiros insistindo que a economia pode suportar os efeitos de uma desaceleração global, bancos e empresas estão confiantes o suficiente para emprestar aos consumidores a prazos mais longos do que antes. Ao mesmo tempo, uma classe média cada vez mais segura está confiante o suficiente para tomar empréstimos - a ponto, segundo os analistas, do consumo doméstico ter superado as exportações como principal motor econômico do Brasil, reduzindo o efeito do que acontece, digamos, nos Estados Unidos.

Devido aos booms econômico e de crédito, bens caros como imóveis, carros e eletrodomésticos estão dentro do alcance de até 20 milhões de brasileiros a mais do que antes, estimou Érico Ferreira, o presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento.

"Pessoas que não eram consumidoras agora são consumidoras", disse Ferreira. "Todos estão levando mais dinheiro para casa. Se você quiser crédito, você consegue."

Uma visita a qualquer shopping center ou revendedora de carros sugere que é verdade. As lojas estão lotadas de compradores ávidos em gastar. As vendas de aparelhos domésticos aumentaram 17% do ano passado, a de celulares aumentou 21% e as vendas de computadores notebook e televisores de plasma e LCD quase triplicaram.

Para itens como carros e imóveis, onde o pagamento em dinheiro raramente é viável, os números são ainda mais reveladores. O número de imóveis comprados com financiamento subiu 72% no ano passado, atingindo seu maior número já registrado, e a quantidade de dinheiro sendo emprestada para compra de veículos saltou 45%.

A explosão de crédito é um fenômeno regional, segundo os economistas.

Apesar dos países latino-americanos terem pouca tradição de crédito ao consumidor, a quantidade de dinheiro que está sendo emprestada está crescendo rapidamente, disse Gregorio Goity, um economista argentino e ex-chefe da Federação Ibero-Americana de Associações Financeiras.

"Os totais gerais são baixos porque vêm de pontos de partida baixos", disse Goity.

"Mas não consigo pensar em algum que não esteja crescendo", ele acrescentou, se referindo à América Latina. "Pessoas que não tinham uma geladeira, uma máquina de lavar, uma máquina de costura, um aquecedor para o inverno, um ar-condicionado para o verão, agora podem comprá-los e melhorar substancialmente sua qualidade de vida."

A nova realidade é mais clara no Brasil - onde a quantidade de dinheiro lançada em cartões de crédito aumentou 20% no ano passado - e particularmente no mercado de automóveis. Um recorde de 2,46 milhões de veículos saíram dos pátios das fábricas no ano passado, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotivos. As vendas cresceram 31% até o momento neste ano.

O motivo, concordam Lula e especialistas, é a mudança nos planos de pagamento. Até recentemente, as taxas de juros eram tão altas e a economia do Brasil tão imprevisível que os bancos não emprestavam por períodos prolongados.

As taxas de juros estavam a 25% quando Lula assumiu o governo em 2003, mas caíram para 11,25% no ano passado, ainda entre as mais altas do mundo, mas baixa para os padrões brasileiros. E apesar do medo da inflação ter levado o Banco Central do Brasil a aumentar suas taxas em 0,5 ponto percentual no mês passado, o primeiro aumento em mais de dois anos, os pagamentos de juros da maioria dos consumidores permanece administrável.

Uma taxa de financiamento de imóvel típica é de 12% ao ano, para automóvel é entre 14% e 15%, e para bens de consumo varia de 42% a 43%, disse Félix Cardamone, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Cartão de Crédito e Serviços.

Os financiamentos de imóveis podem ser pagos em 30 anos, os financiamentos de carros podem ser pagos em sete e de aparelhos domésticos podem ser pagos em até dois anos.

"Há dois milagres básicos: primeiro, o aumento da renda das pessoas, e o segundo, o aumento do número de prestações mensais que uma pessoa pode fazer para pagar o carro", disse Lula no mês passado.

"E o que a indústria automotiva fez? Ela aumentou o número de prestações de 36 ou 24 para 72, para 82. E o que aconteceu? O que aconteceu é que a indústria automotiva corre o risco de atingir capacidade plena de produção no próximo ano. As pessoas estão esperando na fila para comprar um carro."

Ainda assim, o número de brasileiros que dispõem de crédito permanece relativamente baixo. O volume de crédito no Brasil em fevereiro foi de 34,9% do produto interno bruto.

O crédito doméstico nos países da zona do euro para o setor privado era de 116% do PIB, segundo números do Banco Mundial de 2006; nos Estados Unidos era de 201% e no Japão era de 419%.

Ferreira previu que no Brasil a proporção de dívida pessoal em relação ao PIB pode passar para entre 38% e 40% neste ano e pode aumentar 3% adicionais a cada ano até 2013. Ela poderia subir mais caso as taxas de juros venham a cair para valores de um único dígito - um cenário improvável, ele acredita - porque milhões de brasileiros atualmente se recusam a pagar o que consideram taxas elevadas.

Sérgio Troczynski era um deles. O consultor comercial de 24 anos finalmente comprou um Fiat Punto prateado em abril e realizou seu sonho de ser proprietário de um carro zero.

Troczynski é típico do novo clã do crédito. Há poucos anos ele não podia arcar com as prestações exorbitantes. Hoje, entretanto, ele recebe o suficiente para dar uma entrada em seu veículo dos sonhos - e em um aparelho de televisão de 32 polegadas. Ele pagará o equivalente a US$ 455 por mês ao longo de 36 meses pelo carro e cerca de US$ 121 pelo televisor por 12 meses.

"Eu só consegui fazer isso graças ao financiamento. Eu não teria outra forma de fazer isso", disse Troczynski. "Antes os bancos não tinham confiança e nem os vendedores. Está muito mais fácil obter crédito e isso facilita a compra de um carro, de uma casa, para pagar ao longo de anos."

"O crédito está lá, disponível", disse Divanir Gattamorta, um professor de música que estava com sua esposa em um shopping center em um domingo recente. "Mas conseguimos economizar o suficiente e compramos um carro." Gattamorta disse que eles não queriam financiar porque as taxas de juros eram abusivas.

Os especialistas reconhecem que as taxas atuais afugentam muitas pessoas e dizem que estas queixas simplesmente confirmam o potencial de crescimento futuro - se e quando as taxas de juros caírem ainda mais. "Se as taxas de juros caírem para um único dígito, o efeito seria astronômico", disse Cardamone. "Eu não duvido que quanto mais caírem as taxas de juros, mais as pessoas estarão predispostas a tomarem empréstimos."

Publicado no UOL Mídia Global.

domingo, maio 18, 2008

O rebelde acidental

Paul Auster, no The New York Times

Foi o ano dos anos, o ano da loucura, o ano de fogo, sangue e morte. Eu acabava de completar 21 e estava tão louco quanto todo mundo.

Havia meio milhão de soldados americanos no Vietnã, Martin Luther King tinha sido assassinado, as cidades queimavam em toda a América e o mundo parecia rumar para a derrocada apocalíptica.

Ser louco me parecia uma reação perfeitamente saudável para a mão que me haviam dado: as mesmas cartas que todos os rapazes receberam em 1968. No instante em que me formasse na faculdade, eu seria recrutado para lutar em uma guerra que eu desprezava no mais profundo do meu ser, e como já tinha decidido me recusar a lutar naquela guerra, sabia que meu futuro só apresentava duas opções: a prisão ou o exílio.

Eu não era uma pessoa violenta. Revendo hoje aqueles dias, vejo-me um jovem tranqüilo, amante de livros, lutando para aprender a ser um escritor, mergulhado em meus cursos de literatura e filosofia em Columbia. Eu havia marchado em manifestações contra a guerra, mas não era um membro ativo de qualquer organização política no campus. Simpatizava com os objetivos do SDS (um dos vários grupos de estudantes radicais, mas de modo algum o mais radical), mas nunca fui a suas reuniões nem jamais distribuí um panfleto ou folheto. Eu queria ler meus livros, escrever meus poemas e beber com meus amigos no bar West End.

Há 40 anos uma manifestação de protesto foi realizada no campus de Columbia. A questão não tinha nada a ver com a guerra, mas sim com um ginásio que a universidade ia construir no Morningside Park. O parque era propriedade pública, e como Columbia pretendia criar uma entrada separada para os moradores locais (na maioria negros), o projeto do edifício foi considerado injusto e racista. Eu concordava com essa avaliação, mas não fui à manifestação por causa do ginásio.

Fui porque estava louco, louco com o veneno do Vietnã nos meus pulmões, e as centenas de estudantes que se reuniram ao redor do relógio de sol no centro do campus naquela tarde não estavam lá para protestar contra a construção do ginásio, e sim para ventilar sua loucura, para gritar contra alguma coisa, qualquer coisa, e como éramos todos alunos de Columbia, por que não atirar tijolos contra Columbia, já que ela estava envolvida em lucrativos projetos de pesquisa para empresas militares e assim contribuía para o esforço de guerra no Vietnã?

Discursos tempestuosos se seguiram, a multidão irada rugia em aprovação, e então alguém sugeriu que fôssemos todos para o canteiro da obra e derrubássemos o alambrado que havia sido erguido para barrar os invasores. A multidão achou que era uma idéia excelente, e lá se foi a turba de estudantes loucos aos gritos, em disparada do campus de Columbia até o Morningside Park. Para minha grande surpresa, eu estava com eles. O que havia acontecido com o menino gentil que planejava passar o resto da vida sentado sozinho em um quarto escrevendo livros? Estava ajudando a derrubar a cerca. Ele puxou, empurrou e sacudiu, juntamente com dezenas de outros e, verdade seja dita, encontrou grande satisfação nesse ato louco e destrutivo.

Depois dos tumultos no parque, os prédios do campus foram invadidos, ocupados e mantidos durante uma semana. Eu acabei no pavilhão de matemática e ali fiquei durante todo o "sit-in". Os estudantes de Columbia estavam em greve. Enquanto realizávamos calmamente nossas reuniões nos edifícios, lá fora o campus fervia com disputas beligerantes aos gritos e socos, enquanto os que eram a favor ou contra a greve se enfrentavam com abandono. Na noite de 30 de abril, a administração de Columbia se irritou e a polícia foi chamada. Seguiu-se uma rebelião sangrenta. Junto com outras 700 pessoas eu fui preso - puxado pelo cabelo até a perua da polícia por um oficial, enquanto outro pisava na minha mão com sua bota. Mas sem mágoas. Fiquei orgulhoso por ter feito o meu pouquinho pela causa. Ao mesmo tempo louco e orgulhoso.

O que nós conseguimos? Não muita coisa. É verdade que o projeto do ginásio foi arquivado, mas a verdadeira questão era o Vietnã, e a guerra se arrastou por mais sete anos terríveis. Não se pode mudar a política do governo atacando uma instituição privada. Quando os estudantes franceses se insurgiram em maio daquele ano dos anos, estavam confrontando diretamente o governo nacional - porque suas universidades eram públicas, controladas pelo Ministério da Educação, e o que eles fizeram provocou mudanças na vida da França. Nós em Columbia éramos impotentes, e nossa pequena revolução não passou de um gesto simbólico. Mas gestos simbólicos não são gestos vazios, e, dada a natureza daqueles tempos, fizemos o possível.

Eu hesito em traçar comparações com o presente - e portanto não terminarei este trecho de memória com a palavra "Iraque". Hoje tenho 61 anos, mas meu pensamento não mudou muito desde aquele ano de fogo e sangue, e sentado sozinho neste quarto com uma caneta na mão percebo que continuo louco, talvez mais louco que nunca.

Paul Auster é o autor de "A Trilogia de Nova York", "O Inventor da Solidão", "Timbuktu", entre outros. "Man in the Dark", seu próximo livro, será lançado em breve.

Publicado no UOL Mídia Global.

quinta-feira, maio 08, 2008

Perdulário, submisso e impune

Claudio Weber Abramo, na Folha Online

A Mesa Diretora da Câmara dos Deputados aumentou a verba mensal que cada deputado tem à disposição para pagamento de "assessores" de gabinete (cabos eleitorais, na verdade). O estipêndio passou de R$ 50 mil para R$ 60 mil por mês.

Cálculo da ONG Contas Abertas estima que, com o aumento, o custo direto de cada deputado federal se elevou a R$ 114 mil mensais. Isso inclui o seu salário, a tal remuneração a cabos eleitorais, uma mesada chamada "indenizatória", despesas com viagens e outros auxílios. Ao todo, R$ 1,368 milhão por ano para cada deputado.

A título de comparação, um membro da Casa dos Comuns britânica custa, por ano, 160 mil libras. Ao câmbio médio de abril de 2008, isso equivale a R$ 536 mil. Ou seja, o custo nominal de um deputado federal brasileiro é mais de 150% superior ao de um parlamentar britânico.

Na verdade, tal comparação é inadequada, pois não leva em conta as diferenças de renda e de custo de vida entre os dois países. Fatorando os números pelo PIB per capita (o da Grã-Bretanha é quase quatro vezes superior ao do Brasil), resulta que o custo direto real de cada deputado federal brasileiro é dez vezes maior do que o que se observa na Grã-Bretanha.

Todas as Casas legislativas do país distribuem dinheiro a seus integrantes por conta da "indenização" de despesas alegadamente incorridas no exercício do mandato. Poucas exibem os números. Naquelas que o fazem, observam-se fenômenos curiosos.

Por exemplo, cada deputado estadual gaúcho tem o direito de gastar até R$ 6.100 por mês com combustíveis e manutenção de veículos. Quase todos usam o dinheiro integralmente, sem que a Casa dê a conhecer os respectivos comprovantes. Na Câmara dos Deputados, no Senado e em diversas outras Casas, é igual: "indenizam-se" os parlamentares, mas os comprovantes são mantidos em segredo.

Essa verdadeira festa da uva se repete na virtual totalidade das Casas legislativas do país. Estudos divulgados no ano passado pela Transparência Brasil sobre os orçamentos (ou seja, custos globais, não apenas os custos diretos incorridos por cada parlamentar) do Congresso, de todas as Assembléias Legislativas estaduais e de todas as Câmaras Municipais de capitais revelam um quadro escandaloso.

Para cada brasileiro, e em termos do salário mínimo anual, o peso de manter o Congresso Nacional (Câmara e Senado) é dez vezes superior ao peso correspondente para um cidadão britânico ou alemão, 8,8 vezes para um espanhol, cinco vezes para um norte-americano e assim por diante.

A maioria das Assembléias Legislativas estaduais custa mais para o cidadão do que custam todas as Assembléias nacionais européias. Duas Câmaras Municipais (São Paulo e Rio de Janeiro) estão entre as campeãs mundiais de gastos.

Tendo em vista o peso financeiro das representações parlamentares do país, é inevitável especular sobre a respectiva relação custo/benefício. É óbvio que a generosidade financeira, aliada à falta de controle, atrai caçadores de renda.

Dados acumulados no projeto Excelências da Transparência Brasil (www.excelencias.org.br) mostram que a Câmara dos Deputados inclui entre seus integrantes nada menos que 178 indivíduos (ou seja, 35% do total de 513 deputados) que respondem em segunda ou terceira instância a processos judiciais por delitos graves ou já foram punidos por Tribunais de Contas. No Senado, essa razão é de 38%. Na Assembléia Legislativa de Goiás, eles são 73%, na de Rondônia, 58% etc.

Ao lado disso, os parlamentos brasileiros se entregam vorazmente ao jogo de cooptação orquestrado pelo Executivo. Como no Brasil o presidente da República pode nomear cerca de 24 mil pessoas para ocupar cargos de confiança, como o governador de São Paulo (por exemplo) nomeia 20 mil indivíduos, e isso se repete em todos os lugares, os Executivos usam a prerrogativa para comprar o apoio dos partidos, populando a administração com exércitos de agentes políticos cuja preocupação com o interesse público pode ser aquilatada pela estatística de casos de corrupção noticiados pela imprensa - nada menos de 1.240 novos escândalos por ano.

Disso só pode resultar o descrédito com a política que se observa no Brasil, com desgaste da legitimidade da representação eleitoral.

Isso só poderá ser revertido por alterações institucionais. Três sobressaem: reduzir de forma drástica a prerrogativa de o Poder Executivo nomear pessoas para ocupar cargos na administração; impedir que pessoas já condenadas em segunda instância em processos criminais participem da vida política; cortar a pelo menos um quinto os orçamentos dos Legislativos.

Claudio Weber Abramo, matemático pela USP e mestre em lógica e filosofia da ciência pela Unicamp, é diretor-executivo da Transparência Brasil, organização dedicada ao combate à corrupção.

terça-feira, maio 06, 2008

Tom Wolfe diz que romance está morrendo

Da Agência EFE

O escritor americano Tom Wolfe assegurou este domingo (4) em Buenos Aires que "o romance está morrendo rapidamente" e considerou que, para o desenvolvimento do gênero, é necessário que os autores se dediquem à vida cotidiana.

"Estamos em um período no qual o romance rapidamente está morrendo, está se suicidando. Os jovens escritores dos Estados Unidos tentaram copiar (o escritor argentino) Jorge Luis Borges, mas não eram Borges", assinalou o autor, durante uma conferência em Buenos Aires.

Na conversa, realizada no Museu de Arte Latino-Americano de Buenos Aires, Wolfe considerou que os poetas "devem sair de seus quartos e averiguar as diferentes coisas que existem no mundo" porque assim "vão tropeçar com coisas que nunca pensavam que poderiam ver".

"A não ser que saiam e as vejam, nunca as conhecerão. Os detalhes se encontram quando um se submerge na vida do outro", ressaltou.

"Nossas vidas estão cruzadas por nossas psicologias e pelo contexto social. As duas coisas são extremamente importantes", ressaltou o escritor e jornalista durante a conferência "Novo jornalismo: Uma conversa com Tom Wolfe".

O autor de "A fogueira das vaidades" indicou ainda que o jornalismo "não vai morrer, embora as pessoas só leiam informações pela internet, ou seja, notas mais curtas".

"Temos meios de comunicação elétricos há mais de 160 anos, desde o telégrafo até a internet. Mas todas as idéias importantes que mudaram os rumos surgiram da palavra impressa", destacou Wolfe durante a conversa, organizada pela Embaixada dos Estados Unidos em Buenos Aires.

Ele ressaltou, no entanto, que muitos editores pensam que tudo tem que estar condensado, e advertiu que "há muitas revistas que acham que o Novo Jornalismo - que incorpora elementos da literatura - ocupa muito espaço, além de ser muito caro".

Segundo Wolfe, o Novo Jornalismo contempla quatro pontos compostos pelos relatos cena por cena, o uso preciso do diálogo, a anotação dos detalhes e o ponto de vista de alguns dos personagens em cada cena.

"É uma definição muito técnica. Permanece dentro dos limites do jornalismo, mas utiliza os elementos que tornaram muito popular a literatura", assinalou o escritor, que chegou à Argentina para participar da Feira Internacional do Livro de Buenos Aires, uma das mais importantes da América Latina.

Neste sentido, o autor de "Eu Sou Charlotte Simmons" manifestou que "não há uma técnica para a crônica, mas sim uma atitude".

"Não se aprende a ser cronista em uma escola de jornalismo. Se os senhores têm a informação que eu necessito, mereço que me dêem. Todos temos uma compulsão pela informação. E um cronista tem que estar disposto a abordar qualquer assunto", definiu.

Publicado no UOL Diversão e Arte.