sábado, setembro 13, 2008

Na pista, Senna é mais que um nome famoso

Brad Spurgeon, do International Herald Tribune

Em 1994, quando tinha 10 anos, Bruno Senna havia disputado apenas uma corrida de kart, mas já era um piloto de fama mundial. Sua fama não tinha nada a ver com sua vitória naquela corrida. Tinha a ver com seu tio, Ayrton Senna, o mais famoso piloto de corridas de carro da época e tricampeão do mundo de Fórmula 1, que disse: "Se vocês acham que eu sou bom, esperem para ver meu sobrinho, Bruno".

Filho da irmã de Ayrton, Viviane, Bruno foi mais rápido que Ayrton no kart aos 8 anos, e seu futuro parecia claro. Mas Ayrton morreu no Grande Prêmio de San Marino em Imola em 1994, e no ano seguinte o pai de Bruno morreu em um acidente de moto. Viviane proibiu seu filho de correr.

Foi só em 2004 que Bruno voltou a falar em correr, quando decidiu pilotar profissionalmente, aos 20 anos.

"Ela ficou surpresa", Senna disse sobre a reação de sua mãe. "Ela achou que eu não tinha mais falado sobre isso porque não gostava mais. Pensou que era algo que vinha deles, e não de mim, mas evidentemente estava errada sobre isso."

Em duas corridas neste fim de semana, uma no sábado e outra no domingo, Senna deveria disputar o título de pilotos na final da série GP2, uma série anterior à Fórmula 1. Senna está em segundo; o favorito continua sendo Giorgio Pantano, que lidera por 11 pontos. Mas ainda há 20 pontos disponíveis através de vitórias, pole positions e volta mais rápida.

Pode estar em jogo se a Fórmula 1 verá novamente um de seus mais ilustres nomes na série. Embora ele tenha dito que usar o nome de sua mãe o ajudou com patrocínio e abriu portas, Senna também disse que às vezes é uma desvantagem.

"Se alguém viesse sem nenhuma experiência e fizesse o que estou fazendo hoje, lutando pelo campeonato, todos diriam 'Oh, ele está indo muito bem, talvez possa ser bom na Fórmula 1'", ele disse. "Mas porque eu sou quem eu sou eles pensam 'Oh, ele precisa ser campeão. É a única maneira de chegar à Fórmula 1'. Infelizmente é assim, mas eu enfrento o desafio."

De fato, os resultados de Senna foram impressionantes. A maioria dos outros pilotos de Fórmula 1 correu de kart durante a infância, competindo e vencendo em provas nacionais e internacionais. Começaram a correr de carro na adolescência e subiram pelas categorias ao longo dos anos, polindo suas técnicas antes de chegar à Fórmula 1.

Senna, em comparação, só teve aquela corrida de kart. Hoje aos 24 ele está correndo de carro há apenas quatro anos.

Na verdade ele participou de apenas quatro corridas em 2004, três na Fórmula BMW britânica e uma na Fórmula Renault. Mas em sua terceira corrida ele se classificou em segundo e terminou em segundo na corrida da Fórmula Renault.

Em 2005 correu na Fórmula 3 britânica e conseguiu uma pole position e três pódios. Na temporada seguinte, com cinco vitórias e nove poles, foi terceiro na série e também ganhou três de quatro corridas na Fórmula 3 australiana.

No ano passado ele mudou para a GP2 e teve sua primeira vitória na Espanha, mas terminou a série em oitavo. Este ano entrou para uma equipe melhor com melhores resultados, mas pagou pela estréia tardia na carreira.

"Foi uma grande desvantagem porque eu não tinha técnica de corrida, não tinha experiência de estratégia e só pensava em andar depressa", ele disse. "Mas andar depressa não é suficiente. É muito fácil fazer isso em um teste e dar uma volta que seja boa o suficiente para ser tão rápido quanto qualquer outro. Mas é muito difícil se classificar e fazer uma volta mais rápida que todos os outros. É aí que a experiência realmente faz uma grande diferença."

Houve uma confusão no pit depois de sua primeira vitória no GP2: um Senna tinha ganhado uma corrida em um fim de semana na Fórmula 1 pela primeira vez desde que seu tio ganhou o Grande Prêmio da Austrália em novembro de 1993. Senna foi rodeado por muitos repórteres e fotógrafos que tinham coberto o esporte quando seu tio estava lá, e imperou a nostalgia.

No entanto, Senna disse que nunca pensa em seu tio quando está correndo.

"Absolutamente", ele disse. "Eu tento aprender com sua carreira e tudo mais, mas quando estou no carro e no circuito estou totalmente concentrado em conseguir o resultado e fazer o trabalho. Não há espaço para nostalgia. Você precisa estar focado em ser você mesmo e ser o melhor que puder."

Ele é menos reservado do que seu tio foi, menos místico, mais aberto e sempre com um sorriso, e parece estar desfrutando cada minuto de sua carreira.

Mas até Gerhard Berger, amigo e ex-companheiro de equipe de Ayrton, que hoje é sócio da equipe Toro Rosso, disse a ele que precisa ganhar um campeonato antes de passar para a Fórmula 1. Mas Senna está em discussões com várias equipes, e é fácil compreender por quê. A morte de seu tio foi notícia de primeira página em todo o mundo e o Brasil declarou três dias de luto.

Bruno disse que não tem idéia de qual é a reação à sua carreira em seu país. "Ainda não tenho certeza, porque ainda não fui para o Brasil", ele disse. "Mas no momento é muito fácil ser um piloto promissor e estar chegando perto da Fórmula 1. Todo mundo da imprensa o apóia quando você está ganhando."

Especialmente se o seu nome é Senna.

Publicado no UOL Mídia Global.