sexta-feira, maio 12, 2006

Os cacos de "nuestra América"

Crônica de Clóvis Rossi, na Folha Online

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva contabiliza 17 visitas a países sul-americanos. Contabiliza também pelo menos duas visitas de cada colega seu da sub-região ao Brasil, para não falar das muitas reuniões de cúpula de que participa com eles todos, em diferentes formatos.

Tudo para ver a América do Sul em cacos (expressão que não é de Lula, mas minha; ele prefere dizer "o clima não é bom"). As contas do Palácio do Planalto mostram os seguintes conflitos:

1 - Argentina e Uruguai, em torno da construção de duas fábricas de celulose na fronteira. Néstor Kirchner, o presidente argentino, já fez saber ao brasileiro que não quer nem ver Tabaré Vázquez, seu colega uruguaio. O confronto parece muito centrado nos dois mandatários, mas consta que o chanceler uruguaio, Reinaldo Gargano, será defenestrado, o que pode eventualmente ajudar.

2 - Na CAN (Comunidade Andina de Nações), o venezuelano Hugo Chávez provocou uma implosão, ao sair unilateralmente, denunciando os acordos comerciais que Colômbia e Peru negociam com os EUA.

Como se fosse pouco, o Planalto trabalha com a certeza de que o eleito no Peru, no segundo turno, será Alan García, que trocou com Hugo Chávez ofensas ainda mais pesadas do que as que Evo Morales fez à Petrobras.

A CAN é essencial para o projeto da Comunidade Sul-Americana de Nações, menina dos olhos de Lula (e de sucessivos presidentes brasileiros). O projeto original previa juntar o Mercosul à CAN e pronto.

3 - O conflito do gás entre Brasil e Bolívia, mas que envolve também a Argentina (via a Repsol, espanhola/argentina).

O irônico nessa história toda é que os conflitos se dão só entre presidentes da chamada "onda de esquerda" na América Latina (onda mal chamada, aliás).

Tudo somado, é natural que Lula esteja com "a paciência até as meias" (paciência não é bem a palavra usada, mas neste espaço não fica bem escrever a correta).